25.9.08

Tudo a seu tempo

No começo, a vida era regulada pela luz do Sol. Os meses eram menores do que hoje porque as pessoas cuidavam das fases da Lua. Os que moravam à beira-mar e dependiam da pesca controlavam as marés que, por sua vez, tinham íntima relação com a Lua.

Em Roma o tempo era medido com relógios de água. No tribunal, quando o advogado pedia água, significava que estava solicitando mais tempo para sua fala.

Em 1292 foi construído o relógio da Catedral de Canterbury. Hoje, quando se disca 130, ouve-se a hora de Brasília, regulada por um relógio atômico de césio. Quase toda gente usa um relógio de pulso com extrema precisão. De quartzo. A vida moderna é frenética como os adultos de hoje: adultos estressados.


Entretanto, é preciso notar que a criança tem um tempo biológico modelo antigo, o qual precisa ser respeitado para que as atividades sejam realmente proveitosas. O tempo pedagógico é necessário para que cada criança consiga chegar àquela plenitude de felicidade que acontece quando descobre o segredo que estava, até então, envolto em mistério. O caminho a percorrer, para que tal momento ocorra, é que varia e o qual precisa ser respeitado.

Tudo a seu tempo
Cada criança tem um tempo diferente para desvendar cada situação-mistério. Desvendar vem da palavra “venda”, que possui sua origem no germânico, binda, ou seja, “tira de pano com a qual se cobrem os olhos”. As crianças têm velocidades desiguais para tirar essa “tira de pano dos olhos da alma”. Não querendo dizer que as mais afoitas ou apressadas serão sempre as mais inteligentes. Existem crianças que se parecem com motores diesel, aparentemente lentas, mas que vão muito longe na vida.

E não é só a velocidade que difere as crianças.. A resistência à fadiga intelectual é outra coisa que tem de ser levada em conta. O dia de aula deveria ter a duração adequada à resistência de cada criança diante do esforço para desvendar mistérios, que é a aprendizagem.

Cada conquista é uma mobilização de forças que deve terminar na emoção do desvendamento, com a exaustão que sempre ocorre após o êxtase (na proporção da dimensão desse). As mais emocionantes descobertas ocorrem quando as dificuldades foram enormes, quando a emoção da descoberta foi marcante, e quando o cansaço do momento seguinte também é demais.

Há exemplos de crianças que foram educadas por preceptores. As lições eram individuais e personalizadas. A criança recebia o tratamento adequado ao seu grau de adiantamento em cada assunto, ou seja, trabalhava até ficar cansada e parava na hora certa. Provavelmente, se o mestre era hábil, a criança guardava uma lembrança agradável do processo de aprendizagem. E avançava sem parar. Vygotsky dizia que a educação só tem valor se houver avanço em relação ao estágio anterior.

Quando tudo começa bem, termina bem
É verdade que educar uma turma de trinta crianças desiguais é algo desafiador. Por isso é que o planejamento para cada dia de aula é tão importante. Se ele começar bem, é provável que termine bem. Se começar mal, é muito difícil que termine bem. Então o professor tem de pensar muito bem como serão os primeiros trinta minutos da aula: quais são as escolhas? Como começar? Brincando? Cantando? Lendo em voz alta?

A criança, quando entra na sala, ainda está descansada e receptiva. Em geral, ainda guarda um crédito de expectativa: “Que será que a professora vai nos dar hoje?”

Esse primeiro momento de cada dia de aula é decisivo. O professor não pode desperdiçar o crédito de esperança que as crianças lhe dão todos os dias. Tem de fazer desse primeiro instante uma obra-prima.

É doutor em Planejamento e Aplicações Militares, professor do curso de pós-graduação em Gestão de Assuntos Públicos da PUC–PR, consultor, palestrante e pesquisador.

http://www.profissaomestre.com.br

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